A minha família...

Ás vezes ainda temos muito de galos, galinhas e pintos. Por muito modernos, bem informados, esclarecidos, e com alto grau de habilitações académicas, que sejamos... o galinheiro ai está!... Eu, Psicólogo, - mas também homem, e pai; já tendo casado, descasado, recasado; com dois filhos maiores do primeiro casamento; uma enteada / filha quase maior no segundo casamento; e um filho também maior, do segundo casamento (denominador comum duma família), já com netos - me confesso!...


No fundo, conheço a moderna frase / fase de "os meus... os teus... e os nossos". E são rapazes (2) e raparigas (2). E assim sendo... E, posso já esclarecer: o pai, mesmo sendo Psicólogo, nunca consegue ser muito mais do que...Pai!... E é isso que deve ser. Mas... voltando ao galinheiro: a nossa sociedade muito evoluiu mas pouco parece ter evoluído. Confuso?!... Na melhor das hipóteses "os homens ajudam". Quando as coisas apertam... continuamos ímbuidos de um magma de base de contornos machistas. Lutamos contra isso com muito boa-fé mas... falhamos muito também. Depois... padecemos todos do facto de termos vivido mal (ou sonhado muito) com a geração de 68 (Maio, lembram-se?!). Queremos dar aos nossos filhos o melhor de tudo. E assim, querendo construir um tapete de total felicidade para as novas gerações, as tornamos repletas de abastança ou de "dolce fare niente", esquecendo-nos de tudo o resto. "O meu filho é tão lindo quando espeta as unhas nas orelhas da mãe (e quase lhe arranca os brincos, deixando-lhe as orelhas em sangue) só porque ela não o deixou entalar a cabeça do gato na porta da máquina de lavar!...", diz o pai, escangalhando-se a rir. "A minha filha é tão gira quando atira com os pratos á cabeça do irmão (que até teve de levar 8 pontos nas urgências e vai ficar com uma cicatriz para toda a vida!) só porque ele não a deixou esfregar-lhe o caderno de Matemática com um Bolllycao!" diz a mãe com um sorriso maroto.

Somos maus pais?...

Na maior parte das vezes... NÃO. A igualdade... a liberdade... a fraternidade... têm, de facto, os seus limites. E nós sabemos quais. Mas temos vergonha de sermos iguais a nós próprios. Sobretudo porque é um mundo complexo (e por vezes, perverso) este em que vivemos.

E quando os filhos nascem, os bebés separam pais e mães (não tens desejo sexual, querida!); estás com ciúmes da bebé, meu querido(?!); com ele a dormir todos os dias na nossa cama não podemos sequer virar-nos na cama, quanto mais sentir a pele um do outro!; quando ele acorda a tossir ou tem dificuldade em respirar, não és tu que te levantas!;).

E depois vem o jardim infantil e a(s) escola(s) e tudo se complica (tens de o ir levar; tenho de o ir buscar; a educadora disse que precisa de falar connosco porque está sempre desatento; a professora disse que na aula andou aos pontapés ao colega de mesa e lhe faltou ao respeito; onde é que é a festa de anos?; tens de ir tu com ele ao pediatra que eu vou levá-lo à natação; achas que as borbulhas querem dizer o quê?!; pergunta á tua mãe que eu estou a fazer uma coisa muito importante e não me posso distrair; a tua irmã não te ajuda porquê?!; diz ao teu pai que te abra a água para o banho;)

E depois hão-de vir os exames... e a faculdade... e os namoricos... (não gosto nada da pinta daquela miúda; aquele anda a dar-lhe a volta à cabeça!) E depois... e depois...

E o casal soçobra, com o peso da Vida!... Haverá solução?!... Há sempre um caminho. Há sempre um tempo em que se deve redescobrir o namoro, a vontade de rir e galhofar, o desejo imenso de partilhar. E quando não houver solução?! A ruptura, às vezes, é necessária. O Psicólogo não é guardião da moral e dos bons costumes. Não obedece a normas de crença religiosa ou dogmas políticos. Deve cuidar da sua independência. Deve ser um bom ouvinte. Um sagaz intérprete que devolve as questões com outras roupagens. Não há um só caminho. Há caminhos. Não há só uma Verdade.