Nós e o Mundo...

"A minha cabeça vai explodir!" "Um comprimido para dormir!... Dois para despertar!"

Eis-nos no aquário. Peixes de maior ou menor porte... de nome sonante ou fácilmente confundível... Nadando rentes ao fundo turvo ou a meio caminho da superfície espelhada... onde os olhos de um suposto predador se agigantam através da superfície da água. Dezenas de anzóis, tombam, rompendo a placidez espelhada. Neles se agitam etiquetas gulosas com nomes e descrições pomposas, ininteligíveis e muito, mas muito manhosas! Sabemos que são armadilhas mortais e, no entanto, sentimo-nos atraídos. Antes de as abocanhar, damos uma de indiferença, passamos em redor, espreitando as frases de letras grandes. Aqui... gancho para mãe culpada... Além... ferrão duplo para pai demasiado ocupado que chega a casa a desoras com todos já dormindo... Mais perto, um abanico espinhoso de assexuados militantes... Ainda, num relance, belisca-nos o nariz a nota de culpa da Felicidade por alcançar...

Se pudessemos fazer como aquele puto do Astérix que, quando queria conseguir toda a atenção, dizia: "Se não fazem o que eu quero, eu vou parar de respirar e... morro!" E, assim, tudo conseguia!

Não é possível morrer assim. Até dá graça, quando reflectimos no ardil. Mas... é possível morrer aos poucos. Por dentro... depois por fora... ou, quem sabe... alternando... astutamente... entre dentro e fora... sem dar por isso.

"Um comprimido para dormir..." Então... por que raio não durmo?!... Ou, por que raio durmo mas não descanso?!... E porque é que os dias estão cheios de sol e eu só tenho nuvens, por dentro?!... Ou... porque é que, por dentro da minha cabeça, incessantemente e cada vez com maior rapidez, se alternam dor-alegria-e-outra-dor-mais-forte-e-outra-alegria-mais-curta-para-logo-outra-dor-muito-intensa!!!... Beber!... Mais do que isso!!!... Quem me dera uma dor de dentes insopurtável... ou uma lancinante guinada nos ouvidos!...

"Dois para despertar!..." E porque alminhas não desperto?!... Vai um café!... Talvez dois cigarros... aceso o segundo no coto exangue do primeiro... E aqueles estimulantes que a colega de trabalho experimentou... ou meia hora no ginásio a malhar até doer!... Acordado sinto que durmo. Porque, eu sei, que para dormir já chega a morte. Mas, nela acabam todos os ruídos... na minha cabeça!

Não. Não vás por aí! Porquê?!... Ou porquê?!... E mais ainda: porquê?!...

Não me dizes porque o Mundo não muda?!

Talvez... porque tu não queres mudar o Mundo, e te resignas a esperar que alguém o mude.

Vergonha, não é pedir ajuda. Vergonha é não encontrar quem no-la dê. E aí, a vergonha será de quem a nega.

Pode a Psicologia ajudar a interpretar o Mundo?! Sempre. Através do ser humano que quer e ousa enfrentar-se a si-próprio.

Ler a Vida para mudar o Destino.

E saber que há Futuro.