terça-feira, 1 de novembro de 2022

segunda-feira, 17 de outubro de 2022

Afinal está mesmo tudo mal e sem remédio?

Não nos bastava a guerra, as suas consequências que crescem, cinicamente, como a flor-do-iogurte.
Não nos bastava o medo que querem alimentar para nos trazer à rédea curta, submissos, sussurrando a cada esquina, com medo que o céu nos tombe na cabeça.
Tinham de vir os do costume.
Muitos jovens não vêm, escutam ou sequer querem saber de notícias de um tal país real. Deles se diz serem ainda imaturos, impreparados, irresponsáveis.
Quero sair em sua defesa. 
Não é a realidade que só tem mal e dor. É a retórica palaciana que só quer forçar a nossa mente a apenas ver o ruim. Assim sendo, quando os que se afirmam doutos e justos esboroam as palavras em letras cáusticas, elas magoam-nos ao entrar pelos ouvidos e ficam a moer pedaços da alma que queremos saudáveis. Não nos matam mas moem-nos a cada instante.
E fazem-nos sentir sós, angustiados, miseráveis, sem futuro. A nós e, claro está, aos jovens. Não merecemos essa canga.
Falem-nos do que de bem se faz, dos afetos e da solidariedade que por aí há, também. Digam-nos algo de positivo.
Ou julgam que somos acéfalos crentes que, no dia de um tal juízo eleitoral, iremos a correr validar as suas mentiras?
A nós todos que ainda permanecemos lúcidos, e aos jovens que (sim!) têm Futuro, digo que não creiam nos falsos lastimosos nem lhes aceitem o bruaá.
Para que a vossa saúde psicológica se mantenha, bem como a esperança, abram os olhos à vida, fechem os olhos às bestas.
 


terça-feira, 22 de março de 2022

O direito a ser feliz

 De sobressalto em susto vamos calcorreando a Vida. 

A pandemia mescla-se com a Guerra para não nos dar tempo de Paz - nos sentimentos, nas emoções, no quotidiano.

Não nos devemos encolher no vão da escada ou agachar detrás de um muro. É curta a existência. São vastos os sonhos. Sem esquecer os olhos ávidos de Futuro dos que nos aquecem o coração, sejam eles filhos, pais, companheiros amorosos, ou até os que cruzam o nosso quotidiano chamando-nos a atenção, exigindo ternura.

Mesmo quando nos falta a respiração, ou o suor nos escorre pelas costas, ou a cabeça teima em deixar-se tomar por pensamentos mais negros que o carvão, devemos erguer o queixo e sorrir. Encontrar quem nos escute sem nos julgar.

Como psicólogo porfio para que 'se há Fim, cada qual ganhe, de Belo, o seu'.

Como ser humano simples digo-te que há Futuro.

quinta-feira, 14 de maio de 2020

Viver com o medo

Alguém, por aí, fechado em casa, sente-se um prisioneiro de guerra, sob tortura diária, refinada, sádica… Talvez não sejam poucas as pessoas que assim estão. E tal como faz quem sofre nestes cativeiros, disposto a sobreviver… tem de armar cara alegre, servir sem protestar, ‘comer e calar!’. Para se defender a si e aos outros que tem de proteger (normalmente os filhos). Mas é sempre possível pedir ajuda!... Há por aí olhos vigilantes prontos a agir. Dizem que “Quem não pede ajuda é porque não tem coragem.” (…) Não. Não é. Já basta a quem está sob um jugo miserável toda a vergonha e a dor que sofre. Não se deve apelidar de cobarde quem vive com a dignidade a tiritar. Agora para ti que estás nesta condição: - quando em recolhimento centra-te apenas no que importa – aqueles que queres proteger - e modula o teu comportamento para reduzir ao mínimo a confrontação (encurtar as frases, agir sem brusquidão); procura o contacto com o exterior, frequentemente, mesmo que seja apenas para ‘conversa fiada’ (alonga-te nessa ‘linha para fora’); mantém-te em movimento (mesmo que lento) fazendo coisas e mais coisas (pára apenas o tempo suficiente para não te tornares um ‘alvo a abater – um alvo em movimento requer ‘pontaria’). E agora que podes sair… sai… Mas não deixes desprotegidos os que mais queres proteger. Cá fora, anda até que o coração deixe de te palpitar na garganta. Aí será o momento de pedires ajuda. Determinadamente. A vida que tens pela frente é mais longa do que aquela em que sofreste. Arranja um apoio vigilante. Age. Eles, os que te são mais queridos, vão ficar melhor. E merecem, tal como tu, uma existência feliz. Não temas pedir ajuda. Só assim te tornas forte.

sexta-feira, 24 de abril de 2020

Com o coração a saltar pela boca!

‘Não saias à rua que podes apanhar o vírus!’… Disseram-me e eu cumpro. Não saio. Nunca mais saí… Quando tentei sair, uma vez, desfaleci. E aqui estou. Dizem que a vida nunca mais será a mesma… Acabou?... Assim… tão cedo?... Podemos estar sós ou acompanhados que, muitas vezes, temos o coração a saltar pela boca. E isso faz-nos paralisar, suar fininho, arfar, tremer das mãos, perder a força nas pernas, ficar com a ‘vista turva’. Será que não há remédio?... Há solução, sim. Tive um professor brilhante, nos meus primeiros anos de faculdade, que cultivava hábitos exóticos. Morava numa casa campestre, perto de Cascais. Tinha a porta de casa sempre aberta. Na soleira estava uma ânfora quase da nossa altura, antiga, quebrada. Os vários bocados estavam espalhados a um canto. Dizia ele que, um dia, quando não tivesse nada que fazer, poderia colar, tranquilamente, toda a ânfora. E acrescentava ‘Espero nunca conseguir ter tempo para fazer isso.’ Para mim foi uma lição de vida que remoí, ano atrás de ano. Diz-se que ‘certa, só a morte’. Pois sim. Digo-vos que quem morre terá de ter sempre algo que deixa incompleto. Isso é que é o sinal radioso de que estava vivo. Quem se resigna a esperar e deixa de viver para agonizar (‘Nada posso fazer que me ‘saltam os bofes pela boca!...’), acaba por se dispor, sem querer, a aceitar o que tanto teme. Se estás neste caso vai, ao menos, á janela, e espreita o céu. Há sempre, ao menos, um farrapito de nuvem a passar e um o outro pássaro que cruza os nossos olhos. É sinal que a vida flui, não pára, numa força incontrolável. Tu tens de entender isso. Telefona e fala. Evoca os episódios bons da tua vida. Ri!... Pragueja!... Grita!... Enternece-te. Chora!... Qualquer coisa é melhor que ficar zombie. (É que se corre o risco de… acordar morto!)

sábado, 18 de abril de 2020

Instruções para o uso adequado do GRITO.

Imagina um gato assustado. Nem conhece o dono. Os olhos cheios, em alvo, parecendo ver tudo e, afinal, não estando a ver nada!... As orelhas espetadas parecendo ouvir melhor e, afinal, não escutando nada senão… o Medo!...
Quieto (mas não… em sentido!). Garras a espreitarem nas almofadinhas 
(prontas a dilacerar qualquer coisa que se ponha à frente!).
Assim, somos nós perante os gritos (nós… os filhos… qualquer um do casal… 
os da família…)
O GRITO é um sinal de desespero – o desespero de quem grita. 
Um sinal de mal-estar com os outros – o mal-estar de quem grita. 
Um sinal de forças quebradas (verdadeira fraqueza! – a fraqueza de quem grita). 
E o efeito nos outros é… Não escutar… para não sofrer mais. 
Não ver bem… para não entristecer. Calar… para ver se pára a loucura. 
Mas todos esses outros – que não gritam – sofrem. Muito. Em silêncio. 
Por isso, quando o teu vulcão interior te rebentar pela boca 
e o fumo te sair pelas orelhas…  Tenta conter-te. Se começaste, pára! 
Depois olha para os outros e vê bem. Têm tanto de bom como tu. 
A Felicidade está escondida num recanto de ti. 
Usa-a.

quarta-feira, 8 de abril de 2020

Depois de tantos anos

[Éluard, Paul. Poèmes politiques, 1948.                                                                                        Oeuvres II, p. 225. “Après tant d’anées”]
Depois de tantos anos de martírio
De tantos anos-pó muito mais longos
Que anos-luz seguindo um astro perdido
De novo miséria a dar e vender
Por nada, que pra nós não é palavra
Lutando e trabalhando falimos
O desespero deita onde dormimos
Sonhamos abraçar saúde e jovens
A boca e a cabeça ainda sonham
A vida vai mudar como um infante
Não desesperamos, sobrevivemos
Tudo nunca foi tão duro tão obscuro
Mas a noite não se misturou ao sangue
Mais um passo juntos rompe-se o beco
Dando a nós todos o bem e um rumo.